A iluminação artificial exerce papel fundamental na percepção espacial, no conforto visual e na experiência do usuário em empreendimentos hoteleiros. Diferentemente de outros usos arquitetônicos, a hotelaria demanda soluções luminotécnicas que conciliem funcionalidade, bem-estar, identidade e eficiência energética.
Atualmente, na função de embaixadora da empresa Usina Design, envolvo-me de maneira contínua na análise e discussão de diretrizes técnicas e conceituais que fundamentam o desenvolvimento de projetos de iluminação aplicados ao setor hoteleiro, abordando a segmentação por ambientes, o uso de camadas de luz, a escolha adequada da temperatura de cor, a prevenção do ofuscamento, a relevância da automação, o papel cênico de luminárias decorativas e aspectos técnicos relacionados à especificação de drivers LED. Busca-se evidenciar que a iluminação não deve ser tratada apenas como elemento funcional, mas como ferramenta estratégica para qualificação da experiência do hóspede e valorização do empreendimento.

A iluminação arquitetônica tem evoluído de forma significativa nas últimas décadas, assumindo um papel que extrapola a função básica de visibilidade. Em projetos de hotelaria, a luz passa a atuar como componente essencial na construção da experiência sensorial, emocional e funcional do espaço. A percepção de conforto, segurança, acolhimento e luxo está diretamente relacionada à forma como os ambientes são iluminados.
Um dos principais equívocos observados em projetos hoteleiros é a adoção de uma solução luminotécnica homogênea para todos os ambientes, desconsiderando suas especificidades de uso, permanência e expectativas do usuário. Recepção, lobby, quartos, restaurantes, áreas externas e circulações apresentam características distintas e, portanto, exigem soluções igualmente diferenciadas.
Dessa forma, compreender a iluminação como um sistema integrado, composto por diferentes camadas, temperaturas de cor, intensidades e tecnologias, é fundamental para alcançar um projeto eficiente e coerente com as demandas contemporâneas da hotelaria.
Em empreendimentos hoteleiros, cada ambiente desempenha uma função específica e possui diferentes níveis de interação com o hóspede. No lobby e na recepção, a iluminação atua como elemento de impacto inicial, sendo responsável por transmitir a identidade do hotel e estabelecer a atmosfera desejada. Nesses espaços, o equilíbrio entre luz funcional e cênica é essencial.
Nos quartos, a iluminação deve priorizar o conforto visual e o relaxamento, permitindo flexibilidade de uso para atividades como leitura, descanso e circulação noturna. Já em restaurantes e áreas de convivência, a luz contribui para a sociabilidade, o destaque de materiais e a criação de atmosferas acolhedoras.

Áreas de circulação, escadas e banheiros, por sua vez, demandam soluções que garantam segurança, orientação espacial e conforto, especialmente durante o período noturno. A ausência dessa segmentação compromete a experiência do usuário e reduz a eficiência do projeto como um todo.
As arandelas e a iluminação baixa no rodapé são estratégias frequentemente associadas à estética, mas desempenham funções técnicas relevantes no conforto visual. As arandelas, quando aplicadas em áreas de passagem, halls e dormitórios, emitem luz lateral suave, reduzindo sombras rígidas e valorizando superfícies verticais e texturas.

Esse tipo de iluminação contribui para a criação de ambientes visualmente equilibrados, evitando contrastes excessivos e diminuindo o risco de ofuscamento. Além disso, reforça a sensação de acolhimento, aspecto fundamental em ambientes destinados à permanência prolongada.
A iluminação no rodapé, por sua vez, exerce papel orientador e preventivo. Utilizada em circulações, escadas e banheiros, permite deslocamentos seguros durante a noite sem a necessidade de acender luzes gerais de alta intensidade. Seu caráter discreto preserva a atmosfera do ambiente e reduz impactos visuais indesejados.
A combinação dessas duas camadas luminosas — vertical e baixa — promove profundidade espacial, hierarquia visual e bem-estar, configurando uma solução eficiente e humanizada.
O desconforto visual, frequentemente associado ao mau posicionamento de luminárias e à incidência direta de luz no campo visual, é um dos principais fatores de insatisfação em ambientes hoteleiros. Em quartos, corredores e áreas de descanso, o ofuscamento compromete não apenas a funcionalidade do espaço, mas também a percepção de qualidade do projeto.
Soluções baseadas em iluminação indireta, como sancas, perfis embutidos e fontes de luz difusa, devem ser priorizadas nesses ambientes. A correta distribuição das luminárias e o controle do índice de ofuscamento são aspectos indispensáveis para garantir conforto visual e adequação ergonômica.
A temperatura de cor da iluminação influencia diretamente as respostas fisiológicas e emocionais dos usuários. Em ambientes de descanso, como quartos e suítes, recomenda-se a utilização de temperaturas de cor mais quentes, entre 2700K e 3000K, pois estas estimulam o relaxamento, reduzem a sensação de alerta e favorecem o repouso.
Em áreas que exigem maior atenção e desempenho visual, como cozinhas, áreas técnicas e administrativas, temperaturas mais neutras, em torno de 4000K, contribuem para clareza visual e eficiência nas atividades.
Essa diferenciação possibilita alinhar o projeto luminotécnico ao ritmo biológico dos usuários, resultando em maior conforto e satisfação durante a estadia.
A incorporação de sistemas de automação e controle de cenas representa um avanço significativo na qualidade dos projetos de iluminação hoteleira. Esses sistemas permitem ajustar a intensidade luminosa de acordo com o horário, a função do ambiente e as preferências do hóspede.
Além de melhorar a experiência sensorial, a automação contribui para a redução do consumo energético e o aumento da vida útil dos sistemas, alinhando o projeto às diretrizes de sustentabilidade e eficiência energética exigidas no cenário contemporâneo.
No lobby, a iluminação assume caráter simbólico e cênico. Pendentes decorativos, especialmente os de linguagem clássica ou atemporal, desempenham papel fundamental na hierarquia visual do espaço. Sua escala, forma e distribuição devem considerar o pé-direito, a proporção do ambiente e o tipo de luz emitida.

Essas luminárias atuam como elementos de identidade do projeto, funcionando como assinatura luminosa e reforçando a percepção de luxo, acolhimento e cuidado com os detalhes.
A eficiência e durabilidade do sistema de iluminação estão diretamente relacionadas à correta especificação dos drivers LED. Existem dois tipos principais: os de corrente constante, utilizados em LEDs de potência, e os de tensão constante, aplicados em sistemas de 12V ou 24V, como fitas LED.
A potência total do circuito deve ser cuidadosamente calculada, com adição de margem de segurança de aproximadamente 20%, evitando sobrecarga e falhas prematuras. Em sistemas dimerizáveis, a compatibilidade com protocolos como DALI, 0–10V ou PWM é indispensável.
Em aplicações hoteleiras, o uso de sistemas em 24V é, em geral, mais eficiente, pois reduz perdas e garante maior estabilidade elétrica, especialmente em trechos mais extensos.
A correta instalação do driver deve prever ventilação adequada, evitando nichos fechados e áreas com acúmulo de calor. Recomenda-se posicioná-lo o mais próximo possível da luminária, minimizando perdas elétricas.
Em áreas externas ou ambientes úmidos, o uso de drivers com grau de proteção IP65 ou IP67 é essencial para garantir segurança e durabilidade do sistema luminotécnico.
Em projetos de hotelaria, a iluminação deve ser concebida como elemento estratégico de conforto, identidade e experiência. Um projeto luminotécnico bem elaborado valoriza a arquitetura, otimiza o desempenho energético e, sobretudo, contribui para o bem-estar do hóspede.
Mais do que iluminar, a luz em ambientes hoteleiros tem a função de acolher, orientar e emocionar, consolidando-se como ferramenta essencial na qualidade do espaço construído.
Artigo de Aurea Vendramin




