A população mundial está passando por um processo de envelhecimento rapidamente: estima-se que, entre 2015 e 2050, a parcela da população com mais de 60 anos quase dobrará de 12% para 22%, com cerca de 265 milhões de pessoas com mais de 80 anos até meados da década de 2030. Esse cenário cria uma crescente demanda por soluções que promovam autonomia, segurança e bem-estar — e aí entra a inteligência artificial (IA).
O mercado global de IA no cuidado aos idosos foi avaliado em cerca de USD 47,4 bilhões em 2024, com projeções de chegar a USD 322,4 bilhões até 2034, crescendo a uma taxa anual composta (CAGR) de 21,2%.
Tecnologias-chave de IA para cuidados domiciliares
- Monitoramento de saúde e análise preditiva
Dispositivos vestíveis e sensores domésticos monitoram sinais vitais, padrões de sono, movimentação e comportamento. Algoritmos identificam alterações sutis que podem antecipar riscos à saúde, como quedas, infecções ou declínio cognitivo.
- Casas inteligentes com IA
Assistentes de voz como Alexa, Google Assistant e dispositivos personalizados para idosos possibilitam controle de ambientes, lembretes de medicação e chamadas. Sensores detectam movimentos ou situações de risco em tempo real, enviando alertas aos cuidadores e familiares.
Além disso, a automação de cortinas e temperatura, e a iluminação adaptativa melhoram o conforto e o bem-estar dos idosos.
- Robôs e assistentes virtuais
Robôs como ElliQ (da IntuitionRobotics) engajam idosos em conversas, sugerem atividades, fazem chamadas em vídeo e lembram sobre medicamentos. Usuários relatam impacto emocional positivo, considerando tais assistentes verdadeiros “companheiros” que podem evitar momentos de solidão depressiva.
No Japão, robôs terapêuticos como PARO (um “foca robô”) e AIREC oferecem conforto emocional e auxílio físico, especialmente para pacientes com demência.
- Suporte cognitivo e diagnóstico precoce
Ferramentas baseadas em IA avaliam padrões de fala, escrita e testes cognitivos para detectar sinais precoces de Alzheimer ou comprometimento cognitivo. Algumas tecnologias conseguem prever o risco até sete anos antes do aparecimento de sintomas.
Situações de declínio cognitivo já existente são apoiadas com interfaces simplificadas, lembretes e adaptações assistidas por IA para manter a autonomia.
Benefícios, desafios e aspectos éticos
Benefícios:
- Independência prolongada: idosos podem viver com mais autonomia em suas casas.
- Prevenção proativa: alertas antecipados evitam hospitalizações.
- Engajamento social: a IA combate solidão e promove interação contínua.
Desafios:
- Privacidade de dados: sensores coletam informações sensíveis, o que exige rigor em segurança e consentimento, sobretudo para evitar o fenômeno da “resignação digital”.
- Acessibilidade e usabilidade: muitos idosos têm dificuldade em operar tecnologias avançadas; interfaces simples e educação são essenciais.
- Escalabilidade e custo: integrações reais e de longo prazo ainda são escassas e os custos podem limitar a adoção.
Inovações emergentes e tendências futuras
- Gêmeos digitais (digital twins): sistemas criam uma réplica virtual do ambiente e das atividades do morador, permitindo monitoramento preciso e intervenções personalizadas enquanto preservam privacidade.
- Plataformas multimodais (como MAISON): coletam dados variados (movimento, humor, funcionalidade) para análises preditivas de saúde, isolamento social ou declínio funcional, com foco em facilidade de uso para idosos.
- Chatbots e assistentes conversacionais: ferramentas de IA que interagem com idosos, apoiando em aspectos médicos, emocionais e comunicação com cuidadores e familiares
Conclusão
A união entre IA e tecnologias de casas inteligentes está redefinindo o cuidado com idosos, oferecendo monitoramento contínuo, diagnósticos antecipados, assistentes virtuais e robôs terapêuticos. Embora existam desafios relacionados à privacidade, custo e adaptação tecnológica, o futuro aponta para soluções cada vez mais integradas, acessíveis e personalizadas.
Esse movimento não apenas representa um mercado em rápido crescimento, mas também uma evolução significativa na forma de proporcionar dignidade, autonomia e qualidade de vida ao envelhecimento global.
Este artigo contou com a colaboração do portal Casa Inclusiva, especializado nos temas de acessibilidade e longevidade.
